quinta-feira, 11 de julho de 2013

Sim, fui Adotado

13-MINHA FAMÍLIA ITALIANA

Se tivesse que escolher uma única imagem para retratar minha infância seria esta, o balanço na mangueira na casa do Vaguinho. Eram nossos vizinhos quando nasci. Dizem que nossas mães, ambas nos esperando, proseavam barrigudas no portão. Eu nasci primeiro, em setembro. Ele em outubro. Diferença pouca.
Eu só tinha uma irmã, 5 anos mais velha. Ele era o 3º filho do seu Orlando Maríngolo e da dona Ilda. Tinha um casal de irmãos mais velhos, o Valter e a Vilma. Depois veio a Vaninha, a caçula.
No quintal da casa deles tinha uma grande mangueira. E nela, um balanço. Acho que ficava mais lá, com eles, do que na minha própria casa. Fomos juntos para o primeiro dia na escola, alunos da dona Irma, outra grande amiga de nossas mães.
Estudamos juntos, na mesma sala, até a 5º série. Na 6º eu me mudei e fui para Ribeirão. Mas, continuamos amigos;Não me lembro de termos nos zangado um com o outro nestes anos todos. Nas férias de julho e dezembro eu sempre ia para Guaíra e ficava na casa deles. A dona Ilda dizia que  "a minha cama" estava sempre pronta no quarto do Vagner, ao lado da dele. Na adolescência, eu era uma "criança" para sair em Ribeirão. Já em Guaíra não, a cidade era menor, a gente ia nas boates no Grêmio e arrumava as primeiras namoradas. Logo, sempre que podia eu ia pra lá, lógico.
No meio dos "italianinhos", eu era o "filho preto". Sim, eu fui "adotado" por eles. Uma família barulhenta, que discutia em todas as refeições, mas unidos como ninguém. Quando tinha 18 anos, chegando lá em Guaíra, a Vilma nos levava ao clube de campo e um caminhão acertou o carro. Até hoje tenho a cicatriz no meu olho esquerdo, foram 10 pontos. O Valter, o mais velho, foi o primeiro a se casar. Eu fui até Santos para ser padrinho em seu casamento. Ele me disse que os "padrinhos eram todos da família". Já seu Orlando, ex-camioneiro e dono de máquina de beneficiar arroz, me falava desaforos, que, segundo meu pai, se viessem de qualquer outra pessoa eu nunca mais olharia na cara. Só que, logo depois estávamos gargalhando ou tomando cerveja juntos. Era um grande coração.
Assim, prestes a completar 50 anos, eu posso dizer que tenho sim um irmão, amigo há 50 anos, o Vaguinho. Agora ele mora nos estranja, em Bruxelas. Mas, já foi convidado para minha festa de aniversário. Se puder vir, sabe que a nossa casa também será sempre a casa dele. Claro, né? Família é família. Aprendi isso com os italianos.

6 comentários:

  1. Que lindo! Por que vc não escreve um livro como "Os Meninos da Rua Paulo"? Não há nada mais divertido do que memórias de infâncias felizes, todas iguais e maravilhosas... (porque as infelizes, cê sabe, são sempre diferentes, como lembrou o Tolstoi). Eu compraria!

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  2. Mari, não conheço o livro que vc citou. Acho que se fosse em outros tempos, talvez eu pensasse em publicar estes contos em livro. Mas, achei o blog de bom tamanho. Não sei se teria muitos amigos como vc dispostos a pagar pela leitura...rs

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  3. A Mari foi na boa: o clima desta crônica é mesmo próximo ao que Fèrenc Mólnar traz em "Os Meninos da Rua Paulo". Afinal, as sensações de aventuras das crianças são iguais, seja aqui ou na Hungria. Em Guaíra ou em Budapeste. E a nossa sensação ao lê-la é também bem parecida.

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  4. Eita, e pensar que minha esposa já esteve em Budapeste, mas não conhece Guaíra....trem doido, isso, né?

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  5. Fernandinho, que legal!!! Eu fiquei fora da órbita facebookiana as últimas semanas e que grande e emocionante surpresa esta sua aqui! Eu só posso validar a lembrança compartilhada desses 50 anos!
    Só que eu me lembro, sim, de uma briga, antes da gente se mudar da casa lá de baixo, quando a rua 4 ainda nem era asfaltada, cada um na sua bicicleta (com rodinhas nas laterais para ajudar a equilibrar) falando desaforos um pro outro. O motivo? Vai saber! Mas foi a única. A gente sempre comentava em casa que naquela época você tinha a proeza de brincar no quintal como todos as outras crianças e ainda ir embora para casa limpinho enquanto as outras só ficavam com o branco dos olhos.
    E para adicionar às suas lembranças, você, já malandro na 4ª ou 5ª série, fã de carros (o que eu nunca fui), com um fantástico autorama que ganhou de Natal em 1973, fingia estar estudando quando, na verdade, estava lendo a revista 4 Rodas no meio dos livros da escola. Fui testemunha! E não só dessa... (posso contar outra?)
    Grande texto! E é isso mesmo, você era o irmão que morava fora e era perfeitamente natural ter você em casa (inclusive com a D. Ilda preparando comida de acordo com as suas idiossincrasias do momento, do tipo “não como defunto”, quando resolveu não comer carne...).
    Meu outro emprego ainda me levava de vez em quando a Brasília; agora ficou difícil, seria bom você(s) começar(em) a cogitar passar férias no estranja. Sempre à italiana, a casa é nossa!
    Abração e obrigado pela crônica! Estamos aí, há 50 anos!

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  6. Vagner, fique à vontade para "entregar" outras que eu tenha "aprontado". Minha vida é um livro aberto, somos democráticos... (e qualquer coisa, tenho o botão de excluir comentários no blog...kkkk)

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