quarta-feira, 31 de julho de 2013

Classe Medismo

18 -SOBRE NOSSOS TÚMULOS NASCERÃO FLORES AMARELAS E MEDROSAS

"Temporariamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos apenas o medo, nosso pai e companheiro" (Carlos Drummond de Andrade)

Este trecho do poema de Drummond me acompanha há tempos. Usei-o como abertura de minha redação no vestibular da UnB. Isso, em 1982. Acho que me ajudou entrar na faculdade e vir morar em Brasília.
Mas ele me ajuda também a entender o nosso "classe medismo", este mal que nos assola, desde sempre. No fundo, somos medrosos. Receio de perder o emprego, os bens, o carro novo, as pessoas que gostamos...etc, que nos faz covardes, injustos e, às vezes, até violentos.
Meu filho era pequeno, devia ter uns 3 anos (na foto ele já estava com uns 10, nesta fantasia de carnaval, que não deixa de ser uma piada visual com nossos medos) e descia para brincar debaixo do bloco (típica tradição brasiliense). Um belo dia o vejo brincando com crianças sujas, que pareciam ser de rua. Lógico, fiquei preocupado. Ele tranquilamente me explicou que "eram seus amiguinhos".
Controlei meu classe-medismo (sempre excludente) e observei a situação. Ele dividia seus carrinhos e brinquedos, todos se divertiam, pacificamente. Como os outros "riquinhos" não os tratavam assim, os "meninos de rua protegiam" meu filho, ajudavam a guardar os brinquedos e se despediam amistosamente quando iam embora. A inocência não-contaminada de meu filho me deu uma baita lição.
Apesar de nos considerarmos "esclarecidos", "espiritualizados" ou "do bem", temos que ficar atentos ao nosso "classe medismo". Ele é uma merda, só nos atrapalha e nos torna infelizes. Aprendi isso com meu filho.

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