segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Piaparas e bagrinhos

36-MEU RIO É O GRANDE

Se o Riobaldo dizia que o "Urucuia é meu rio", no Grande Sertão: Veredas, posso perfeitamente considerar o Rio Grande, como sendo o "meu rio".
Passei lá boa parte de minha infância, tentando pescar boas piaparas. Isso antes da represa de furnas, porque depois, elas praticamente desapareceram. Ficaram apenas os lambaris e as tilápias.
A piapara era um peixe valente. Brigava para não sair da água. E dava belos saltos também. Alguns até diziam que ela "voava". O pescador tinha que ter técnica e paciência para vencer a batalha. Puxa um pouco, dá linha na carretilha, deixa descansar, recolhe mais um pouco...e assim ia.
Às vezes, a gente fica com a sensação de ser um "peixe fora d'água". Outro dia, comentei com um cliente, empresário, que um dos meus melhores amigos de faculdade ocupava um cargo de primeiro escalão no governo local. Nadando na lógica empresarial, ele logo identificou uma "boa oportunidade de negócios" para mim, quem sabe não poderia arrumar algum contrato bom?
Respondi que meu amigo era meu amigo há 30 anos justamente por saber que eu nunca faria algo do tipo. E completei. "Daqui a 6 meses ou um ano, ele deixa o cargo. E como fica nossa amizade?"
Eis que no fim de semana, no facebook, este meu amigo disse que estava colocando o cargo à disposição do governante, que teria liberdade para uma escolha talvez mais política e menos técnica.
Claro que bagrinhos nunca fariam isso. Mas não é o primeiro de meus amigos a tomar tal atitude. Um deixou a chefia da Sucursal de uma grande revista nacional, por discordar (e não querer fazer parte) de alguns "de seus negócios editoriais", outro trabalhava diretamente com a mais alta autoridade e pediu para sair, pois a pressão era tremenda (e tinha família, filho pequeno, etc).
Eu mesmo, logo que sai da faculdade, deixei de ser redator da então maior agência de publicidade do país, pedi as contas, porque me achava mal remunerado. Na época, muitos não entenderam também. Devem ter me achado um ET, ou peixe fora d'água. Quem nasceu bagrinho, nunca será piapara. Aprendi isso lá no Rio Grande, ainda menino.

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