37- O MEU PONTO DE MUTAÇÃO
Logo que eu comecei a trabalhar, um pouco antes de me formar na faculdade, fui fazer um estágio em uma agência. No mesmo dia em que eu, entrou lá também um profissional com "mais experiência", carioca, muito falante, que se "dizia ser o Cara". Ele ficou com um trabalho por uma semana, "mas não vinha a inspiração". Não escreveu uma linha sequer. Foi dispensado e tive que fazer o trabalho dele.
Mas, nesta semana, ele falou de um livro, que curioso, fui atrás. Era o tal do I Ching, o Livro das Mutações. Alguns o veem como um oráculo, para o qual você faz perguntas e ele responde. Na verdade ele seria um resumo da cultura chinesa tradicional, transmitida oralmente, por milhares de anos até chegar até nossos tempos. Teria ideias Taoistas e Confucionistas, as duas grandes correntes do pensamento chinês.
Comecei a anotar a lápis, no próprio livro, as ideias que para mim, ocidental, soavam diferentes ou novas. Fui lendo cada um dos 64 hexagramas e também os textos explicativos. Um exemplo? "O cume é um lugar alto. O homem que se encontra numa posição elevada poderá facilmente ficar isolado". (Sim, simplesmente abri o livro e relatei o primeiro trecho anotado que encontrei).Passado algum tempo, percebi que já estava "familiarizado" com os 64 Hexagramas. Se me perguntassem, qual era o 36, na hora eu me lembraria do "obscurecimento da luz", que diz assim "A luz mergulhou no fundo da terra: a imagem do OBSCURECIMENTO DA LUZ. Assim, o homem superior convive com o povo. Ele oculta o seu brilho e apesar disso resplandece".
Depois conheci um outro livro, bem menor (em número de páginas), mas também fundamental para conhecer o pensamento chinês, mais especificamente, da Escola Taoista, o Tao te Ching.
Este traz 81 "poemas", que tratam respectivamente, do Caminho e da Virtude. Cheguei a participar, com um grupo de amigos, de estudos semanais deste pequeno livro, durante aproximadamente um ano. Além de mim, tinha um psicólogo Junguiano, um Monge Budista, um servidor público, uma médica e uma bailarina. Descobrimos que era legal comparar as diferentes versões ou traduções publicadas, algumas em outras línguas. Foi uma experiência muito rica, mas não tenho a menor pretensão de dizer que "esgotamos o assunto".
"Ching" significaria "poço". Diz o Tao: "O bem superior é como a água: o bem da água a tudo beneficia, e o faz sem poupar-se". Diz o I Ching: "O POÇO. Pode-se mudar uma cidade, mas não se pode mudar um poço. Este não diminui nem aumenta. Eles vão e vem, recolhendo do poço". O mesmo ideograma pode ser também traduzido como "Sabedoria".
Como fiz referência no sub-título, lá em cima, li também o "Ponto de Mutação", de Fritjof Capra. Gostei, mas não ao ponto de dizer que "mudou minha vida", como posso tranquilamente afirmar sobre estes outros 2 Chings. O Confucionismo nunca me interessou muito.
Se alguém quiser seguir "O Caminho" (assim também o Tao é conhecido), hoje eu recomendaria que primeiro conheça o Tao e depois vá para o I Ching. (O contrário do que fiz). No fim, das contas, beberá-se do mesmo poço, não importa a ordem, né?
Nenhum comentário:
Postar um comentário