Nós íamos a Barretos quase que semanalmente. Além dos parentes (avós e tios), também por causa de dentista, médico e até as aulas de piano de minha irmã. Além disso, tinha um casal de amigos dos meus pais, que a gente ia muito na casa deles e eram também chamados de "tios". A dona Alice e o seu Ubyrajara. Eles tinham lanchonete em escola, assim, eu sempre ganhava guaraná e guloseimas. Mas, meu lugar preferido na casa deles era um quartinho nos fundos, com uma rede, onde eu passava tardes lendo revistinhas do pato donald e uma coisa muito mais divertida: um jornal engraçado, que se chamava Pasquim.
Pois um belo dia, encontrei na banca de revistas em Guaíra o Pasquim. Não tive dúvidas, comprei e levei orgulhoso para casa aquele jornal bacana. Mostrei para o meu pai, que me alertou: "Se você quiser comprar, tudo bem. Mas enrole, bote debaixo do braço, não mostre ou comente com ninguém e leia aqui em casa". Nossa, achei estranhas aquelas palavras. Seria o pasquim uma espécie de revista playboy? Uma coisa proibida? Mas, porque então vendem para uma criança?
Hoje entendo o que acontecia naquela época, início dos anos 70. Na cidade tinha um delegado com fama de mau, chamado Nicanor. Só muito mais tarde fui entender o significado das palavras "repressão e ditadura". Felizmente, elas não eram próximas de nós na minha infância. Vantagens de se morar em uma cidade pequena, no interior. E claro, do meu pai ter me dado um bom conselho.
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