segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Memórias não póstumas

46-O OBRAHMA TUDO SABE

Em tempos de falta de privacidade nas redes sociais, tudo que você disser poderá ser usado contra você nos tribunais. Não é a toa que o termo "facebook" está presente na maioria dos processos de divórcio nos EUA. Sem contar com a bisbilhotice do o Brahma, né?
Ainda adolescente, descobri em casa a coleção completa do Machado de Assis. O cara era genial. Em pleno Séc. 19, nas Memórias Póstumas de Brás Cubas, tinha um capítulo em branco, onde ele só dizia: sobre isso não falo. Porque que ele iria, em suas memórias se comprometer, né? Sábio Machado.
Nas narrativas de memórias, os tempos se alternam, pois as lembranças não obedecem necessariamente a ordem dos fatos. Assim, quando me separei, separava os livros e CDs, e claro, não ia esquecer a coleção do Machado, herdada de meu pai. Mas meu filho, com seus oito ou dez anos na época, questionou: "E você vai me deixar sem minha biblioteca?". Assim, tive que me separar também destes livros. A argumentação do moleque me desmontou.
Mas, antes disso, tenho outras boas recordações ainda mais jovem. Uma situação inusitada aconteceu, em parte,  por caminhos tortuosos da inflação da época. Em resumo, acabei por dividir um apartamento com uma ex-namorada e sua irmã mais nova. A minha namorada (a atual, da época) não gostou nada da história. Isso foi indo, até que um dia, ela apelou e explodiu sobre a situação: "É. Acho que você precisa arrumar uma mulher mais burra do que eu". Diante do impasse, eu a abracei e soltei a pérola: "Precisa não, amor. Estou satisfeito".  Enquanto ela protestava e me xingava de tudo que é nome,  eu ria sem parar. Sobre as acusações,  não entro em maiores detalhes. Aprendi com o Assis. Até porque,  um machado nesta hora poderia ser letal, né? (E claro, estas memórias, hoje, seriam póstumas).

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